Virar o mundo, viramundo, quando vim ao mundo, esperei. Fiz uma viagem,
ainda lembro, e esperei, era criança. Andei, da poeira e do caminho é o que
mais lembro. Das conversas nas estradas do sem fim, na troca de itinerário, de
volante, de acordar estrangeiro do teu lado, numa fronteira a beira do sol, num
banho de chuva a beira do mar, numa rua sem placa para apontar onde ir. Bem ali
depois da curva saberei uma história e você a pintará na lente dos nossos olhos
e na imagem que te capta e te faz desenhista das nossas escapadas. Estamos tu e
eu a desenhar nosso mapa, nossa voluptuosa agonia sendo como somos, viajantes a
andar buscando notícias de lá, com estrada, poeira e poesia...
UM DIA, UMA
VIAGEM...
Lembrei da
primeira viagem que fiz,
Era uma
estrada barrenta,
Sem fim, anoitecemos
por lá, e tinha umas pessoas estranhas
Numa casa
que na noite escondia
Uma mulher
muito gorda e outra que não lembro o rosto
Um homem de
chapéu que de tudo ria
Era agosto
Chovia.
Uma menina
ruiva me olhava e se escondia
Atrás da
gorda, que suava
Falava com
outra,
A velha de
vestido ajardinado, que cozia
Na grande
sala, a noite, um cheiro temperado exalava
E lá fora o
tempo mudo, um breu de mundo,
Um silêncio
de tudo e um vazio de nada.
Não sei
nenhum nome, acho que não aconteceu
Não sei da velha,
da menina, daquele que ria
Não sei da
estrada, daquele lugar onde chovia
Não sei do
tempo, nem sei quem era eu...
Da vida
foi-se tudo, estrada e atalho
Ficou a tela
na memória, hoje e sempre
E pelas
minhas casas e dias, eternamente