domingo, 10 de maio de 2015

RECANTO DOS BOFF – MORRO AZUL – TRES CACHOEIRAS – RS

Entrada de Morro Azul
Riacho à beira da estrada
Num dia de abril saímos para olhar outros horizontes que não fossem de concreto e onde as sombras não fossem de prédios e sim de árvores, como dádivas, com água fresca e silêncios. Na BR 101, na altura do município de Três Cachoeiras deixamos a rodovia obedecendo a intuição e seguimos para um local denominado Morro Azul. Andando por uma estrada de chão batido, com muitas pedras, mas razoável para andar, chegamos num confim onde o caminho se confunde com a entrada para algumas casas de colonos e toda ela é margeada por taipas de pedra encaixadas umas às outras, semelhantes aqueles vilarejos italianos antigos que vemos em filmes.
A estrada é margeada por córrego que desce da serra em direção ao mar. Sempre subindo, seguidos pelo verde abundante e pelo pequeno rio, nos deparamos com uma casa de madeira, típica dos colonos da região com um indicativo “RECANTO BOFF”.
Casa dos Boff
Casa simples.

Fomos recebidos pela dona do Local, Cenira Boff e seu filho Edson. Acolhedores ao extremo, nos mostraram a casa que foi da família e hoje serve de hospedaria, a cozinha com quitutes produzidos ali mesmo, pães e biscoitos. Frutas sem agrotóxicos e uma boa prosa. 
Andamos pelo sítio onde uma cachoeira despenca numa queda de mais de 07 metros e rio corta a propriedade desenhando o campo verde e num determinado momento se espraia num lajeado. Conhecemos também o cão Biro, mergulhador e que faz pose para fotos.
Caminho percorrido
Riacho que cruza as terras dos Boff


Dia completo, fomos embora prometendo voltar e claro, voltamos. Toda vez que precisamos de horizontes assim, cuidados, como se cuida da vida, pegamos a estradinha rumo ao Morro Azul. Dona Cenira, sabemos, nos espera com seus doces, salgados e simpatia.


DIA VERDE
...tintas na mala, horizontes a pintar, tempo sem tempo
Andamos o dia em direção ao sol, em direção ao céu,
No topo do monte,
No cume da montanha onde a nuvem era um véu,
Que voava e encontrava teu rosto
Esvoaçante te enredava na cintura
Na dança onde joguei as tintas da mala
Fazendo no horizonte uma nova textura
Para viver todos os dias a te olhar
Como papel de parede, pintura...

Olhando para o todo, o vale era verde
O dia era verde e o tempo vermelho, paz que já sabia
Prender tua mão na minha, solta que descobria


O dia colorido que no vale para sempre amanhecia...

sábado, 9 de maio de 2015

SÃO JOSÉ DO NORTE – RS

Entrada da balsa
A instalação do Município deu-se em 15 de agosto de 1832.
Em 31 de Março de 1938, São José do Norte foi elevada à categoria de cidade. Com ocupação datada de 1720, na noite de 6 de junho de 1767, as tropas portuguesas, após violentos combates, expulsam os espanhóis que haviam dominado o território e novamente as terras ficam sob o domínio de Portugal. 
Cais central
Por do Sol no cais central
A bandeira lusa volta a ser hasteada e por ser o aniversário do Rei D. José I, o município até então chamado de Norte, Arraial do Norte e Povo do Norte, recebeu o nome de São José do Norte A origem do nome apresenta outra versão, que vem da crendice de que os primeiros habitantes da região depositavam crença em São José e que os historiadores acrescentaram o nome "do Norte", por que era Município que ficava ao norte da cidade do Rio Grande.
Cais Central visto da balsa
Andar nas ruas do povoado é um convite a viajar no tempo, abrir janelas e portas de antigos casarões, e por eles olhar o mar, é desafiar o tempo e retornar ao passado. Cruzar ruas de pedras, olhando os barcos que desaparecem junto com o sol e reaparecem numa lua que se deita na lagoa dos patos para preparar o novo dia não é apenas poesia, é pintura. São José do Norte é a história que ainda contamos e contaremos, e ali podemos ver e sentir nas prosas e no jeito simples da gente do lugar as aquarelas penduradas nas paredes de tantas casas em tantos lugares onde já andamos. O dia anda e para onde olhamos sentimos o contar de causos dos avós, dos poetas e dos cantadores. Nosso imaginário de uma aldeia de pescadores, de histórias e de luta de um povo está ali, desenhado e pronto para ser transformado em vida. O pôr do sol na Lagoa dos Patos é inesquecível, tanto como o amanhecer. 
Cais central



Dicas:
Como chegar: Seguimos a BR 101, desde Osório em direção a Mostardas, passando por Tavares. O percurso é de 265 km em estrada razoável, com paisagens costeiras únicas. Vale a pena fazer a travessia de balsa para Rio Grande. Além da travessia, a cidade de Rio Grande é linda, com prédios e igrejas históricas, e se puder estar no roteiro vale a pena.
Hospedagem: Ficamos hospedados no Hotel Arpini. Bem localizado, junto a lagoa, limpo, acolhedor, preço razoável. Café da manhã fraco.
Para levar para o Paraíso: Pizzaria La Fragata. Ótima qualidade. Preço honesto e atendimento muito bom.
O que não levar para o paraíso: Falta de opções de bares e restaurantes na orla.


URUGUAI, UM LUGAR PARA VIVER...

             
Estrada do Uruguai (Ruta 8)
 Quando do verão março assumiu o sol, anoitecemos, depois de mais de 600 km, em Aceguá na divisa do Brasil com o Uruguai. Pernoitamos por lá. Local com poucas opções de hospedagem. Era mais de meia noite quando encontramos vaga numa hospedaria. Na manhã seguinte seguimos pela Ruta 08 em direção a Melo, cidade onde foi ambientado o filme “O Banheiro do Papa”. Agradável, como o país, a gente, o clima e os horizontes.
Praça principal de Melo
A pampa descortinada nos levou por cidadezinhas e povoados, cada uma com sua cor, cada uma com seus sinos e suas casas, hora envelhecidas, hora recém postadas. É um país de estâncias e estancieiros, de crença e de crendices, e de verde com vários tons. Almoçamos num restaurante de beira de estrada, parrilla, uma mistura de assados que é comida típica. Muitos carros antigos cruzavam nosso caminho, antigos caminhões, convivendo com modelos novos, dando um sabor especial ao andar naquelas estradas de pouco movimento, tranquilas e em bom estado. De quando em quando uma parada para olhar a perder de vista, o Uruguai por dentro. E paramos para olhar. Logo, estávamos chegando em Punta del Este, meio da tarde, dia de sol, muito sol.
                    
Monumento ao afogado (ou Los Dedos)
  Punta, para quem gosta do turismo caixa alta, é deslumbrante. Limpa, organizada e toda maquiada, pronta para fotos e filmagens. Rumamos para a Praia Brava e para o porto. Não tem como não registrar o Monumento ao Afogado ou Los Dedos, na Praia Brava, mas queríamos o pôr do sol no Puerto de Punta. Um espetáculo reprisado centenas de vezes ao ano, inesquecível.
Puerto de Punta Del Leste
                        Montevideo nos recebeu a noite. Linda, pacífica e acolhedora. Ficamos hospedados no centro da capital uruguaia, hotel Los Angeles. Bem localizado, limpo, espaçoso, café da manhã bom, preço honesto. A única desvantagem é não possuir estacionamento.
Marco da cidade
                       A capital é prodigiosa em atrações. Monumentos, prédios históricos, praças, feiras, restaurantes e a orla...São mais de 20 km de calçadão, que vai trocando de cor, matéria prima e decoração ao longo do Rio da Prata, emoldurando Montevideo. Centenas de bares, mirantes, quiosques e restaurantes são opções para quem passar.

Palacio Legislativo
 
Praça Independencia
                         A cidade respira cultura, como se fosse da sua natureza ser gentil e fina, orgulhosa e elegante, culta e muito educada. Mantém nas suas alamedas um que de nostalgia, nas sombras dos álamos, nas lojas de antiguidades e nas vestes de sua gente. Para juntar-se ao povo, Tristan Narvaja, a feira de tudo, tudo mesmo. De artistas, poetas, sonhadores, antiquários, vendedores de quinquilharias, colecionadores, cartunistas, acumuladores e de gente que resiste aos novos tempos, fazendo escambo e amizade com sabor de negócio. Cheiros, cores e sons misturados fazem o tom da festa na feira no centro da capital.
   
Santuário Nacional do Sagrado Coração de Jesus
                         Amanhecemos o terceiro dia em Montevidéo. Tempo curto, apenas esse que tínhamos, e era preciso colocar o carro na estrada. Rumamos para Rivera para retornar ao Brasil por outro caminho, e descobrimos outras facetas de um país encantador. Mai de mil km por estradas uruguaias, em bom estado.
 Nem uma única vez fomos importunados por patrulheiros, Polícia ou autoridade qualquer. Respeitoso, tranquilo e belo. Para chegar, olhar e sentir, como num poema de Mário Benedetti, poeta uruguaio:

"A PONTE

Para cruzá-la ou não cruzá-la
eis a ponte

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país

trago comigo oferendas desusadas
entre elas um guarda-chuva de umbigo de madeira
um livro com os pânicos em branco
e um violão que não sei abraçar

Feira Tristan Narvaja
venho com as faces da insônia
os lenços do mar e das pazes
os tímidos cartazes da dor
as liturgias do beijo e da sombra

nunca trouxe tanta coisa
nunca vim com tão pouco

eis a ponte
para cruzá-la ou não cruzá-la
e eu vou cruzar
sem prevenções

na outra margem alguém me espera
com um pêssego e um país."


Dicas:

Como chegar: Qualquer das Rutas que levam a Punta e Montevideo a partir do Brasil, são estradas com boas condições de tráfego e pedágios baratos.

Hospedagem: A rede hoteleira de Montevideo está nas páginas dos sites de viagem com promoções e lista de preços. Escolhemos o Hotel Los Angeles pela localização, preço e fotos. Ficar hospedado no centro é mais barato e mais confortável. Garagem custa em média 25 reais a diária.

O que levar para o paraíso: O Teatro Solis.

O que não levar para o paraíso: Os preços praticados em Punta del Este.